
O Agrupamento de Escolas Leal da Câmara destacou-se como pioneiro em Portugal ao elaborar um documento orientador para a utilização da Inteligência Artificial Generativa (IAGen).
O processo foi liderado pelo Professor bibliotecário Carlos Pinheiro pelos grupos de professores responsáveis pelo Programa de Digitalização para as Escolas e Conselho Pedagógico. Este grupo definiu um roteiro que preparasse gradualmente os professores, alunos e encarregados de educação para um uso responsável e ético da IA Generativa (IAGen) em todas as escolas deste agrupamento.
Este processo inspirou o desenho das 4 etapas que qualquer escola pode seguir para criar as suas políticas de uso da IAGen.
Roteiro
A viagem deste roteiro inicia em 2023, poucos meses após o surgimento da ferramenta de IA generativa ChatGPT da OpenAI. Refletir em conjunto foi o primeiro objetivo. Em conjunto construíram as etapas que levaria a escola a criar as políticas de utilização da IAGen. Conheça cada etapa:
1. Refletir e diagnosticar – Janeiro a setembro 2023
Nesta etapa acontece a primeira reflexão do Conselho Pedagógico, onde os professores e dirigentes que fazem parte do órgão de coordenação e supervisão pedagógica e orientação educativa reúnem e incluem como ponto de discussão os potenciais impactos da IA na Educação e recomendações sobre critérios de avaliação.
Ao mesmo tempo a Biblioteca Escolar assume o seu papel de liderança enquanto espaço educativo integrador de múltiplas literacias: o professor bibliotecário Carlos Pinheiro assume o papel de facilitador de workshops para professores sobre literacia da IA e faz parte da equipa que faz um diagnóstico de necessidades de formação para professores na área de IA.
A sensibilização da comunidade educativa é uma constante, e no início do ano letivo o Agrupamento de escolas organiza a IX Jornadas Pedagógicas, para o qual convida todos a juntarem-se para refletir sobre educação, do qual a IAGen fez parte como tema de reflexão e formação com vários workshops de Literacia da IAGen para professores.
2. Criar e colaborar – Setembro 2023 a Abril 2024
A equipa de professores que integra o Plano de Ação de Desenvolvimento Digital da Escola (PADDE), inicia o processo de revisão deste documento focando nos impactos da IA. Esta equipa é a responsável por criar o primeiro rascunho de um documento orientador focado na utilização da IAGen na escola. Inspirados por outras orientações éticas para educadores sobre a utilização de IA e de dados no ensino e na aprendizagem, esta equipa cria o rascunho para os “Princípios para a utilização da IA no Agrupamento de Escolas.” Este documento provisório é apresentado na reunião de Conselho Pedagógico, onde a equipa pede a colaboração de todos para contribuírem e reverem o documento. O documento colaborativo recebeu comentários e sugestões de todos os departamentos, que posteriormente foram integrados pela equipa responsável.
3. Aprovar e implementar – Maio 2024 a Fevereiro 2025
Finalizado o documento dos “Princípios para a utilização da IA no AE” foi apresentado em Conselho Pedagógico, que deu um parecer positivo, gerando um consenso alargado. Foi definida a data prevista para a sua implementação, que apontou para o início do ano letivo 2024/2025.
O documento passou a integrar o Regulamento Interno da Escola.
4. Monitorar e avaliar – Setembro 2024 a Maio 2025
Na abertura do ano letivo a escola organiza o evento aberto à comunidade, a X Jornadas Pedagógicas, onde também há espaço para reflexão sobre a IA. A formação contínua de professores prevê-se para este início de ano com 6 workshops e um curso sobre IA, avançando para temas como: ferramentas de IA, ética da IA, IA no contexto de áreas curriculares específicas (matemática, artes, etc.). Ao longo do ano letivo, já há vários momentos planeados de formação para professores, convidando para a escola especialistas externos que trazem uma perspectiva nova.
Os alunos do 3.º ciclo e secundário também participam em sessões de literacia da IA, facilitadas pelo professor da Biblioteca Escolar Carlos Pinheiro, integradas no programa Proliteracias da Rede de Bibliotecas Escolares. A previsão é a de abranger ao longo do ano, mais de 500 alunos. Ainda na dinâmica da Biblioteca escolar, os encarregados de educação são chamados também a participar num workshop sobre “A IA na escola. E agora?”
A equipa responsável pelo acompanhamento da implementação dos princípios de uso da IA na escola, vai ficar responsável por monitorizar se a IA está a ser usada para melhorar o ensino, a aprendizagem e a avaliação. A monitorização e avaliação ocorrem mediante instrumentos e métricas concebidos para esse efeito, recolhendo o feedback de professores, pais e alunos. De acordo com os resultados, será feita a atualização ao documento.
Conteúdo do documento
O documento é um guia sucinto, com 9 páginas e composto por 2 partes.
Parte 1
Apresenta quais os contextos de uso da IA na educação, recomendados pela União Europeia, e faz um resumo do documento de 2022 “Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem”
Parte 2
Foca em 8 áreas e apresenta orientações para abordar e lidar com o uso da IA em cada uma:
- Ensino e aprendizagem: foca nas estratégias pedagógicas inovadoras a serem adotadas pelos professores, que promovam a participação ativa dos alunos. Indica como lidar com as ferramentas de IA, a necessidade de explicitar quais as ferramentas que que podem ou não ser utilizadas pelos alunos, e como todo o uso deverá apoiar e reforçar o pensamento crítico e a criatividade.
- Inclusão, diversidade, não discriminação e equidade: garante que é claro que a IA deve ser usada de forma equitativa tendo em conta as necessidades de todos os alunos, garantindo igualdade de acesso.
- Bem-estar social e emocional: sublinha a importância de a escola salvaguardar o desenvolvimento e o bem-estar social e emocional dos alunos e dos professores, garantindo que é por todos compreendido que a interação com o sistema de IA é simulada e que não tem capacidades de emoção ou empatia; que as ferramentas de IA devem ser usadas de forma a respeitar os direitos humanos, incluindo a autonomia e a dignidade individuais; Os alunos devem ser informados sobre o impacto ético e social da IA nas suas vidas.
- Privacidade e proteção de dados: determina que qualquer sistema ou ferramenta de IA usada deverá cumprir o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados e a Política de Utilização Aceitável das Tecnologias da Informação e Comunicação do AELC.
- Transparência e ética: como os professores, a comunidade educativa e os alunos devem ser informados e ensinados sobre IA. Recomenda-se que a idade para o uso autónomo, por parte dos alunos, de ferramentas de IA generativa seja a partir dos 13 anos. Recomenda-se ainda a assinatura do compromisso de uso da IA por parte dos alunos, do qual se apresenta um exemplo.
- Avaliação pedagógica: Estratégias para os professores criarem trabalhos e avaliação à prova da IA generativa sempre que lhes for possível, e inovarem pedagogicamente.
- Formação dos professores: Aponta para a necessidade de formação e informação garante que os sistemas de IA sejam pedagogicamente relevantes, seguros e promovam os direitos dos alunos.
- Monitorização e avaliação: Informa sobre o processo e a equipa responsável pelo acompanhamento da implementação dos princípios de uso da IA, no sentido de verificar se a IA está a ser usada para melhorar o ensino, a aprendizagem e a avaliação. Sublinhando a recolha de feedback junto de professores, pais e alunos.
Referências
Comissão Europeia, Direção-Geral da Educação, da Juventude, do Desporto e da Cultura (2022). Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem, Publicações da União Europeia.
Microsoft “Classroom agreement on using generative AI tools”