Enquanto os educadores estão a trabalhar arduamente para aprender sobre a IA e integrá-la nos seus currículos, os alunos também estão a formar as suas próprias perspectivas sobre esta tecnologia. Este artigo explora as reflexões de professores e alunos que se envolveram com a IA na sala de aula e partilharam os seus planos de aula com AI goes to School, partilhando as suas experiências e percepções.
Perspectivas de Professores
Os professores que estão a orientar os seus alunos através das complexidades da IA, procuram garantir que estes a utilizam de forma eficaz e responsável, ajudando-os a adquirir conhecimento também sobre as implicações éticas da IA no trabalho escolar.
A professora bibliotecária Ana Rita Amorim facilitou sessões de IA para todos os alunos do 9º ano e do ensino secundário na Escola Secundária Fernando Namora, em Portugal. Reflectindo sobre a sua experiência, salientou a necessidade de formação em literacia de IA tanto para alunos como para professores:
“Para mim foi muito importante realizar estas sessões com as 22 turmas da minha escola. É um desígnio e uma obrigatoriedade de todos os docentes compreendermos e prepararmo-nos para o que a IA nos oferece/permite (e vai oferecer/permitir realizar cada vez mais de forma vertiginosa).
Esta tecnologia condiciona a nossa relação com o conhecimento e vai condicionar principalmente a relação pedagógica com os alunos. A Inteligência Artificial (IA) está prestes a transformar radicalmente a educação, alterando tanto a maneira como ensinamos quanto a forma como aprendemos.
Fiquei um pouco surpreendida durante as sessões pois percebi que os alunos ainda não estão muito despertos para a compreensão da tecnologia, embora já a estejam a utilizar, pelo que é urgente realizarmos atividades com a IA em sala de aula para que eles compreendam como a devem utilizar de forma ética e responsável.
Durante o ano letivo também foram realizadas duas sessões de formação interna para docentes “Conversa entre Professores sobre o Chat GPT” pois é imperativo e urgente que todos os docentes se preparem para esta derradeira crucial e determinante transformação da educação, que é já uma condição presente na escola!” (prof.Ana Rita Amorim)
Para além das sessões com os alunos na biblioteca, a professora Ana Rita também realizou sessões de formação intituladas Conversa entre Professores sobre ChatGPT, sublinhando a importância da preparação dos professores para esta transformação em curso.
Entretanto, o professor Artur Coelho explorou o potencial criativo da IA para escrever e ilustrar estórias, com os seus alunos com 10 e 11 anos de idade. A sua atenção centrou-se na integração da IA sem problemas no currículo:
“O objetivo não era o de criar uma atividade para mostrar que se consegue usar IA, mas sim integrar IA como qualquer outra ferramenta, através da sua adequação aos processos e objetivos de ensino” (prof. Artur Coelho)
No entanto, também identificou desafios na implementação, como a gestão de contas devido a restrições de idade e a manutenção da concentração dos alunos enquanto navegam em diferentes plataformas. Apesar destes obstáculos, os alunos desenvolveram competências de literacia digital que serão cruciais nas suas futuras interações com a IA.
“Esta foi uma atividade exploratória. Retiro como pontos de interesse a possibilidade de uso de ferramentas de IA integradas no currículo e fluxo de trabalho de uma disciplina (TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação), possibilidades interdisciplinares, e um esboço de abordagem à IA Generativa na educação que tire partido do potencial de criação destas ferramentas não como mera geração, mas criação com intencionalidade.
Na componente interdisciplinar, a opção foi de adaptação às necessidades dos docentes de Português, dando-lhes liberdade sobre a forma de participação. Alguns optaram por um texto único para a turma, outros por um tema de turma, e outros por textos totalmente livres. Numa das turmas, a produção de textos foi manuscrita. Esta opção foi consciente, para não angustiar os docentes, e mostrar-lhes que o objetivo não era o de criar uma atividade para mostrar que se consegue usar IA, mas sim integrar IA como qualquer outra ferramenta, através da sua adequação aos processos e objetivos de ensino.
Destacam-se algumas dificuldades de operacionalização. A ferramenta escolhida, por se integrar nos serviços da escola, limitava a sua utilização a faixas etárias específicas (tal como o faz com outros recursos e serviços disponíveis, em respeito de legislação europeia e americana). Para contornar a restrição, que foi explicada aos alunos, optou-se por contas secundárias, para uso na atividade. Isto implicou que durante as várias fases, os alunos tinham de mudar entre contas: conta institucional para toda a fase de produção de documentos, conta secundária para uso do Gemini. A maioria dos alunos percebeu como o fazer e ganhou hábitos de gestão de contas e perfis online, mas para todos, representou uma barreira adicional que quebrava o foco no essencial, que era o uso de IA como colaborador em projetos.” (prof. Artur Coelho)
Perspetivas de alunos/as
Os alunos também estão a formar as suas próprias opiniões sobre o papel da IA na sua educação e nas suas carreiras futuras. Na aula de licenciatura em Multimédia, em que a professora Bárbara Cleto, explora a IA com os seus alunos com idades entre os 18 e os 23, um aluno salientou:
“A Inteligência Artificial irá acelerar o meu processo de pesquisa, assim como desbloquear o processo criativo.” (aluno/a)
Esta perspetiva sublinha o potencial da IA como parceira de colaboração no trabalho criativo, em vez de ser apenas uma ferramenta de automatização.
Mesmo os alunos mais jovens com idades entre os 8 e 11 anos, que participaram no projeto da professora Cláudia Meirinhos, sobre como Explorar a IA no 1º Ciclo do Ensino Básico, mostraram uma consciência perspicaz das limitações e considerações éticas da IA.
“Robôs pensam? Somos nós que os programamos, eles não têm cérebro próprio para pensar.” (aluno/a)
Esta afirmação reflecte um entendimento da IA como uma ferramenta criada pelo homem e não como uma entidade independente. Outro estudante salientou a importância do desenvolvimento responsável da IA:
“Os humanos que devem programar a IA, deve ser uma boa pessoa e deve ter cuidado para não pôr coisas más, como comentários racistas ou assim.” (aluno/a)
Estas reflexões revelam que os jovens estão a interagir com a IA como utilizadores e como pensadores críticos que reconhecem as suas implicações sociais mais amplas.